O sol girou mais uma vez ao redor da Terra e quando os raios da manha tocaram sua testa, a cabocla gritou:
- Sou Jurema
E pulou do galho mais alto da árvore gigante e pareceu voar por entre os pássaros e outros seres alados da floresta; mergulhando no rio profundo de onde emergiu, com nadando com os botos que entendiam o seu canto:
“Cabocla
Seu penacho é verde
Seu penacho é verde
É da cor do mar
É a cor da cabocla Jurema
É a cor da cabocla Jurema
É a cor da cabocla Jurema
Juremá
Cabocla, filha valente de Tupinambá. Adotada pelo mundo, encantrada aos pés da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita e com formosura da noite e a firmeza do dia. Corajosa, a cabocla tornou-se a primeira guerreira da tribo, pois a sua força e agilidade no manejo das armas e da ciência da mata, se tornara uma lenda por todo o continente; onde os contadores de estória, aos pés da fogueira, falavam da índia de pena dourada, que era a própria mãe encarnada.
Nada causava medo na cabocla, até o dia que ela encontrou seu maior adversário: o amor. Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Haúscar, de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol e que fora preso numa batalha.
Os dias se passaram e o amor aumentava, pois o pior que amar não e amar sozinho e sim ser amado em retorno, pois exige do amado, uma ação em prol do amor.
Pelo olhar o caboclo Haúscar dizia :
“Oh doce cabocla meu doce de cambucá
Minha flor cheirosa de alfazema
Tem pena desse caboclo
O que eu te peço e tão pouco
Minha linda cabocla Jurema
Tem pena desse sofredor
Que o mau destino condenou
Me liberta dessa algema
Me tira desse dilema
Minha linda cabocla jurema”
Jurema que aprendera a resistir ao canto do boto, ao veneno da cascavel e da amadeira, já resistira bravamente a centenas de emboscadas e que sentia a distância o cheiro de ciladas, não conseguiu resistir ao amor que fluía do seu peito por aquele guerreiro. Observando o caboclo preso, ela viu nos olhos dele, as mil vidas que eles passaram juntos, viu seus filhos, o amor que os unia além da carne, e percebeu que não foi por acaso, que ele foi o único caboclo capturado vivo, e decidiu libertá-lo, mesmo sabendo que seria expulsa de sua tribo.
Na fuga, seu próprio povo a perseguiu, e em meio à chuva de flechas voando na direção do caboclo fugitivo, foi Jurema que caiu, salvando o seu amado e recebendo a ponta da morte que era pra ele, no seu próprio peito.
Conta a lenda, que o caboclo Haúscar voltou a Terra do sol e fundou um império nas montanhas andinas e mandou erguer um templo chamado Matchu Pitchu em homenagem a Jurema, onde só as mulheres da tribo habitariam e lá aprenderiam a ser guerreiras como a mulher que salvara a sua vida. E no lugar onde jurema caiu, nasceu uma planta robusta e muito resistente que dá flor o ano inteiro, cujo formato e tom amarelo-alaranjado intenso chamou a atenção de todas as tribos, pois tudo dessa planta podia ser utilizado, desde as sementes, até as flores e o caule, e porque as flores dessa planta estão sempre viradas para o astro maior, ela ficou conhecida como girassol.
“Moça bonita
E a cabocla Jurema
Ela vem com um girassol
E a coroa dela é
Como um girassol
Ela e a luz do amanhecer
Tem os seus lindos sonhos de arrebó
E a coroa da jurema é
Como um girassol
É como um girassol
É como um girassol
É como um girassol.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário